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29.12.09

Vergonha! parte I/III

Vergonha! parte I

por Nuno Belchior


A conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP 15) ficará marcada para sempre pela maior demonstração de violência contra todos os seres vivos do planeta.
Poucos acreditavam que fosse possível uma revira-volta na forma e no modo como nos relacionamos com o mundo que nos rodeia, e sabemos de ante-mão que o sistema capitalista tem embutido em si a destruição, mas como seres humanos que somos, únicos responsáveis pela existência deste sistema, ficamos sempre perplexos quando este se manifesta no seu máximo explendor: criminoso.
Esta conferência foi convocada para a constituição de um documento vinculativo, em que os estados do mundo acordariam entre si cumprir metas de redução de emissões de gases de efeito de estufa. Estas metas foram aconselhadas por um orgão das Nações Unidas, o IPCC.
Contudo, desde à alguns meses que o rascunho deste documento parecia impossivel. Várias razões foram apresentadas de forma a confundir o raciocínio das pessoas, de modo a legitimar o processo.
Uma conferência que se apresentava com sendo das Nações Unidas tornou-se em algo de Dinamarquês, mais do que Mundial.
A Dinamarca é hoje um país com uma forte industria de produção eólica, desde o pequeno aerogerador de telhado até à turbina de alto mar. É, também, um dos maiores produtores e exportadores de carne e lacticínios da União Europeia.
A produção alimentar, especialmente a agro-industria, é um dos maiores responsáveis pelo aumento da temperatura global.
Apesar da agricultura familiar ser o modo de produção mais eficaz, foi sendo ao longo dos anos substituída pelas grandes industrias do agro-negócio, subsidiadas com fundos públicos, produzindo assim comida mais barata, mas com altos custos sociais e ambientais.
O agro-negócio vive de mãos dadas com a miséria e a fome, algo que diz que resolve, mas que efectivamete aprofunda e agrava.


A tecnologia cria em todos nós um fascínio desde a criação da roda até à sonda que enviamos aos confins do espaço, tudo nos parece um autêntico milagre material.
Esperamos, e muitos já afirmam ter, tecnologias capazes de evitar o aumento de temperatura. Incrivelmente todos estão virados para o finaciamento público, tem um target, um nicho, um mercado. Recorre-se ao medo, à visão do abismo, ao armagedon.
É preciso relançar a economia, ela própria a causadora da destruição ecológica.
O sistema que causa tamanha destruição e sofrimento, deve manter-se vivo.
Fecham escolas, centros de saúde, desertifica-se o mundo rural, agoniza-se o mundo urbano. Mais investimento em infra-estruturas, menos qualidade de vida, mais crime, mais miséria.
A tecnologia serve em grande parte apenas para concentrar na mãos de alguns a riqueza produzida por todos os outros. Quanto maior é o carácter de urgência, maior é o investimento público, maior o lucro das multinacionais.









Vergonha! parte II/III

Vergonha! parte II


por Nuno Belchior


Os Estados Unidos têm sido apresentados como os grandes culpados da situação em que o mundo se encontra. A terra da liberdade recusa qualquer tipo de compromisso, sem o compromisso do segundo maior predador mundial, a República da China.
O mais interessante é que grande parte dos complexos industriais e financeiros sediados na China são Norte-Americanos e Europeus, e os produtos aí produzidos dirigem-se para o mercado mundial sendo a grande fatia absorvida pelo mercado ocidental.
Numa forma resumida exporta-se tecnologia e know-how para a China produzem como convém a baixo custo, trabalhadores sem salários dignos e sem regalias sociais, destruição do meio ambiente, atentados aos direitos humanos. Os governos ocidentais usam a forma de produzir chinesa, de forma a satisfazer a política interna, passam a responsabilidade para as pessoas, tornadas consumidores, que se resignam com os seus baixos salários e precaridade laboral em comprar o mais barato possivel, que é chinês. Campo perfeito para a corrupção, estimulada e organizada, para poder fazer continuar andar a máquina.
Vender gato por lebre, conversa de trapaceiro, são apenas algumas expressões que podemos utilizar para descrever esta conferência.
O dinheiro público deve ser utilizado para o bem comum e não para uns quantos, como foi o caso da crise financeira este ano.
Mas, terá havido mesmo crise ou, terá sido apenas concentração de poder?

O que movia os Estados representados nesta cimeira era o investimento no combate às alterações climáticas. Este era inferior a practicamente um quarto do que utilizaram para salvar o sistema financeiro. Em apenas um ano, os Estados apoiaram o sistema financeiro com o mesmo montante que apoiaram o combate à fome em Africa nos últimos trinta anos.
Acções beneméritas no combate às alterações climáticas? Ou responsabilidade pela situação em que o planeta se encontra, criada por estes? Ajuda aos paises afectados pelas alterações climáticas ou compensações?
Qual é o valor de uma comunidade? O valor individual do ser vivo baixou tanto que temos que tomar toda a comunidade para este ganhar alguma importância, neste sistema que se movimenta em abstractos milhões.
Contudo, o desaparecimento vertiginoso de várias comunidades por todo o mundo é hoje irreversivel e tem culpados, Banco Mundial e FMI. Talvez o mais interessante é ver a proposta dos Estados Unidos para tornar o Banco Mundial o gestor do fundo para as alterações climáticas.














Vergonha! parte III/III

Vergonha! parte III
por Nuno Belchior

Como forma de combater o excesso de CO2 na atmosfera desenvolveu-se o conceito de mitigação climática.
Todos nós, quer acreditemos em alterações climáticas ou mesmo sendo cépticos a este facto, nos rendemos à plantação de uma árvore. Todos os contos infantis têm bosques e florestas, e quando crescemos são os lugares hidílicos, de fonte de beleza da vida.
No entanto, diferem bastante dos contos de fadas na realidade, em que milhões de hectares são ocupados por eucaliptos ou pinheiros bravos. Desertos verdes, mihares de hectares destas árvores retiram a água do solo, os nutrientes e, expulsam as comunidades indigenas.
A paisagem é também ocupada com enormes torres éolicas, centrais solares, centrais de carvão e nucleares, barragens que impedem os rios de percorrerem o seu caminho milenar. A troco de mais uns neons de publicidade, de incentivo ao consumo e logo, à frustração, destroí-se o que é mais necessário, pelo planeta inteiro.
Enquanto que o excesso de consumo de carne, açucar e óleo é a primeira causa de doenças mortais nos paises ditos ricos, a sua produção é causa de destruição ecológica nos paises pobres. Comunidades são expulsas ou assasinadas para dar lugar a mega produções de soja, cereais, óleo de palma, cana de açucar. Uma familia camponesa que trabalhava o seu sustento em 1 hectar de terra é agora obrigada a trabalhar nestas plantações ou, emigrar para a cidade.
O colonialismo é a marca mais negra da história humana. Este sistema permitiu retirar aos seus legítimos donos todos os recursos naturais, e as suas próprias vidas. Sistema capaz de fazer que comunidades residentes nos seus locais de origem se tornassem comunidades marginais, párias, num estorvo.
Este sistema tem como objectivo esturquir riqueza de forma a criar nos paises um foço maior entre quem-muito-tem e quem-muito-tem-de-fazer-para-ter-o-mínimo. O fosso entre ricos e pobres aprofundou-se tanto que o fundo deste se encontra a bilhões de dólares de profundidade.
Esta cimeira pretendia pintar de verde um sistema que é negro, que se baseia na ganância, no roubo, na violação. A sua base é a expropriação do bem comum, e o seu único objectivo o lucro.

Estas foram as razões que levaram mihares de representates de comunidades a Copenhaga, apesar de manobras de marketing quererem transformar esta cidade em HOPE, a verdade é que foi sempre COP.
Durante meses o governo dinamarquês submeteu os seus cidadãos a formatações do que se trataria na sua capital, assuntos de máxima importância para o mundo, e que todos os cidadãos deveriam de estar preparados, inclusivé, para o pior. Os bandos de marginais lá dos confins da Europa: os Gregos viriam à sua cidade para colocá-la a ferro e fogo, estes e os outros: Alemães e Italianos que submergiriam a sua capital num manto de destruição e rapinagem. O parlamento via-se na obrigação de aprovar leis draconianas, anti-democráticas, como forma de proteger a sua população. Contudo, seriam de caracter permanente.
O governo preparando-se para eleições demonstraria assim o seu poder autoritário e negocial. A vinda do imperador à cidade tomou mais importância que a própria cimeira. O frio desta cidade acabou por prejudicar o império, pois, apesar do calorzinho da limusine, o imperador vinha nú. Nú de respostas, ou soluções.
E essas pessoas vindas das Áfricas, das Indias, das Américas, esses enviados das comunidades que davam voz aos que sofrem, aos famintos. Aqueles, que nas suas regiões tentam viver com a opressão de um sistema, que impõe, destroí, mutila e tortura, tiveram o seu tempo para falar e, de serem calados.
Enquanto que na cimeira das Nações Unidas faziam parte do folclore, nas conferências e workshops, quer do Klimaforum quer no Climate Bottom Meeting, expunham os seus problemas e igualmente as soluções, sendo o interessante a forma que encontraram para conseguir, a muito custo, manter a sua dignidade.
O governo Dinamarquês, para os fazer sentir em casa, colocou toda a policia na rua, helicopteros no ar, detenções arbitrárias, rusgas, violência física, detenções completamente desumanas em que pessoas algemadas ficaram sentadas horas a fio, no frio, urinando-se pelas pernas abaixo. Apenas com a justificação da prevenção. Mas prevenção do quê? Nenhuma acção violenta séria foi instigada por algum dos grupos ligados à organização das demonstrações. Não-violência foi a proposta que foi aceite, por todas as pessoas. Os lideres desapareceram, é outra coisa boa de Copenhaga, deram lugar aos que falam, aos que são reconhecidos pelo seu trabalho, que são reconhecidos por grupos informais de pessoas que assumem a responsabilidade no protesto. Os gestos servem para demonstrar a pulsão do grupo, os seus desejos, os seus receios. Tempo para tudo quando o objectivo é determinado pelo consenso.
Em resposta à acção não-violenta vieram prisões em massa sem qualquer justificação legal, espancamento, gás pimenta, gás lacrimogénio. Aos grupos de discussão aberta chegou a infiltração de policias à civil, nas manifestações pacificas os agitadores policiais.
Quando a Autoridade de um país socialmente avançado confisca óleo de fritar pois poderia ser utilizado para fazer bombas, é de rir, é mesmo hilariante. Confiscar ferramentas de trabalho como forma de prevenção é ridiculo. Deter porta-vozes antes de demonstrações é ditadura.
Sem dúvida que o COP 15 foi uma vitória para o sistema capitalista, o greenwash continua, mas só vai nele quem quer. E quem não quer vai ter de querer porque a economia não pode deixar de crescer, a pobreza, a destruição, mas verde, e publicitada em horário nobre.
Alterações climáticas ou mudança de sistema? Ali naquelas ruas, com a neve a cair nos ombros, a resposta era simples: mudamos o sistema e deixamos no museu a familia deste, desenvolvemos conceitos que nos permitam viver em harmonia com a natureza. Tecnologia, conhecimento, recursos, temos de sobra, basta colocar o sistema numa caixa de compostagem, acabando-se com o parasita.
As soluções convergem todas para o mesmo ponto, a energia, mesmo em frente do nosso nariz, por debaixo do nosso queixo: o prato, a comida.
Esta será talvez a maior conclusão destes dias: a produção de comida pelos próprios, e comida proveniente da agricultura biologica local é o melhor contributo que individualmente as pessoas podem dar.
Os movimentos afirmam-se assim com propostas claras, criticas e fundamentadas, e acima de tudo, com um grande respeito por toda a vida no Planeta.


18.12.09

projecto270 @ No Borders Action! No Climate Refugees! 14_12



Pela manhã, o grupo reclaim the fields dirige-se para o centro de copenhaga, onde está instalado o centro greenwash hopenhagen, onde as grandes empresas fazem o seu show-off. Imediatamente temos a policia a perguntar o que fazemos ali. Vamos tomar o pequeno almoço. Temos marcada uma manifestação diante do edificio onde se está a discutir o mercado de carbono, ou seja, quanto ganhamos nós na próxima década enquanto sugamos até ao tutano tudo o que resta deste planeta. Dispersamos e quando estamos todos no centro, dirigimo-nos ao edificio, do outro lado da avenida. Os seguranças ficam nervosos. Um bando de jovens mascarados como padres??, mais uns a distribuir papeis, e agora, lá ao fundo, a banda de samba. Isto vai dar asneira, pensam. Em minutos temos o edificio rodeado de policia, e acordamos que não barramos a entrada a ninguém, mas mantemos firme o direito à livre expressão. O sacerdotes distribuim copões de indulgencia aos representantes das grandes empresas. E não há nada como uma boa batucada para dar animo a uma manifestação, e ainda por cima, sem termos tomado o pequeno almoço. Continuamos a denunciar os negócios que continuam nos andares acima das nossas cabeças. Entretanto há pessoas que vêm às janelas do edificio, verificar a situação. Um spokesman desce e comunica-nos que podemos enviar uma pessoa responsável para expor os nossos pontos de vista perante a reunião. Todo o grupo recusa. Ou vamos todos, ou não vai ninguém. Ficamos mais um pouco e depois dirigimo-nos, sob escolta, até hopenhagen, onde soltamos as últimas palavras e voltamos às agendas do dia.
Hoje é dia de meetings: reuniões para as acções de amanhã, dia da agricultura, reuniões de preparação para a grande manif de dia 16, sessões de esclarecimento. Há também mais manifestações, e estamos todos mobilizados nas diferentes direcções que temos de ir, para amanhã voltarmos a reunir e apresentarmos os diferentes programas ao grupo.
Vamos a uma reunião sobre a acção do nosso grupo para amanhã, e mais uma vez, somos testemunhas do ponto de viragem deste movimento. É estruturada uma acção clean, simples, actractiva e agradável. Damos o mote: "taste the diference!". Estamos todos com muito bom feeling.
À tarde vamos ao centro mais quente do momento, em Ragnhild. É aqui que grande parte dos activistas vivem, onde se dorme, se come, se planeia, se pinta, se escreve. Foi também aqui que a policia veio apreender materiais, criando uma das primeiras violações dos acordos.
Fazemos um workshop onde activistas da organização CJA pintam cenários possiveis para dia 16. Muitas das pessoas neste encontro acham ridiculo: cães?? acham mesmo? gás pimenta?? não consigo visualizar... O trabalho destes activistas é muitissimo bem direccionado, fortificando os grupos de afinidade e os pares, reforçando a importância de olharmos uns pelos outros, sempre.
Focam as tácticas utilizadas pela policia dinamarquesa, fazem-nos trocar de personagem para vermos como nos sentimos na pele de um policia com milhares de pessoas à frente, e, falo por mim, senti-me mínima. Não deve ser fácil estar do outro lado. O ponto central de dia 16 é passar a barreira policial, e realizar uma assembleia popular, onde os representantes dos povos mais prejudicados pelas alterações climáticas falarão, e as pessoas apresentarão as soluções e o caminho a seguir. São distribuidos Guias de Acção e Bust-Cards com os nossos direitos na Dinamarca.
No final do dia voltamos à sub-kitchen suéca, com a reconfortante sopa bio quente e boa, que sabe a voltar-a-casa. Alguns do grupo decidem ir para a festa am Christiana, o Belchior vai também. Eu fico com Lucy, colega do curso de EDE que tirámos em Findhorn em 2007, que encontrámos ontem, por coincidencia, mais um elemento da familia. Procuramos diluente para limpar o chão do hall da escola, que ficou pintado depois de termos terminado a nossa faixa, mas está tudo fechado ao fim de semana. Na busca pelo quimico, perco o BI. Fazemos o caminho inverso, e encontro-o numa loja de bebidas onde fomos pedir informações. O alivio é grande, tão grande quanto o cansaço. E voltamos para casa, enfrascando-nos em muffins. Ui, açucar e frio, perigosa aliança...
Descansamos e sonhamos com a utupia.
Entretanto, o Nuno liga-me dizendo que devem chegar bem mais tarde do que tinham planeado porque, estão barricados dentro de Christiania. A festa essa, está óptima. Ok. Aviso a organização.
Ligamos a mais pessoas que estão tão divertivas a dançar que nem se apercebem do que se passa lá fora. Entretanto chega um grupo de suécos que conseguiram fugir do bairro. Fugir?
Deve estar tudo bem, dizem-me.

Tania Simoes


projecto270 @ Hit the production! + Farmers' action 13_12




Continuam as manifestações em Copenhaga.
Tento mais uma vez aceder à internet, mas já não consigo. No klimaforum há problemas, a net wireless está sempre a cair, e começo a pensar que nada acontece por acaso.
Ao meu lado está George Monbiot, jornalista do Guardian, que tem internet mas trouxe a sua própria pen. Um jovem jornalista dirige-se a ele e cumprimenta-o: "You are my hero!".
"Mas, o que achas do que se está a passar no Bella Center?"
"Bem, algo de estranho se passa, ontem alguém conseguiu passar imagens dos manifestantes nos ecrãs internos e, foi bastante interessante observar as reacções. A partir desse momento, as negociações entraram em desalinho e, estou curioso para ver o desenvolvimento..."
"Então, achas que as manifestações podem ter influência nas negociações?"
"Concerteza. Vamos ver o que acontece. O que é certo é que há cada vez mais delegados incomodados com  as reuniões à porta fechada, e com a separação norte - sul, muito assumida."
Depois do climategate, depois do destapar de algumas das negociatas preparadas de antemão, depois do texto secreto dinamarquês ter sido revelado, depois das acusações dos indigenas, vem a certeza que os que se manifestam na rua, independentemente do frio, da neve, da chuva, são os detentores da razão. Já chega de negócio.
A Via Campesina organiza mais uma acção, à porta do edificio do Danish Meat Council, denunciando o modelo de produção de carne industrial e intensivo. Como em todas as acções, tem teatro, é animada e divertida, e a mensagem passa. Os palhaços continuam a ajudar a policia, enfatizando o ridiculo de toda a situação. De notar que Copenhaga está preparada. Preparadissima para a batalha, que ninguém sabe qual é. Em especial os sitios do costume (Macdonalds, KFC, Netto, etc) estão super-protegidos, com uma esquadra inteira só para eles.
Ainda não perceberam que o movimento nascido em Seattle está mais velho dez anos, logo, mais maduro, e que o acordo entre todas as organizações presentes, em absoluto, é a não-violencia.
É importante repeti-lo vezes sem conta, porque ao ver tanta policia na rua até parece que há vandalos à solta. Não é o caso. Aliás, brincando com os "nossos seguranças privados" vamos tentando passar-lhes mais informação, e muitos dizem mesmo que não dúvidam dos nossos argumentos. É importante repetir também que esta massa populacional que constantemente se manifesta nas ruas de Copenhaga está em constante acção de sensibilização e, como é óbvio, os policias são o alvo mais próximo.
"The criminals are inside!", "Join us" é o que mais se ouve.
No klimaforum, Vandana Shiva e restante comissão internacional para o futuro da comida e da agricultura deitam a casa abaixo com o seu trabalho. Depois do manifesto sobre o futuro das sementes em 2006, vem o manifesto sobre as alterações climáticas e o futuro da segurança alimentar.
O melhor deste painel é a partilha dos resultados alcançados, do sucesso das iniciativas, e sobretudo, a facilidade da utilização da palavra.
E quando Vandana fala, todos ouvem e reagem imediatamente.
Fala sobre culpa. A atmosfera e o clima são valores públicos que não podem ser submetidos a valores de mercado e ao deixar estas negociações nas mãos dos mesmos, estamos a oferecer os direitos de propriedade do próprio ar que respiramos. Somos todos cúmplices desta situação, pois autorizámos que as mesmas pessoas que esgotaram os recursos, apresentem agora as suas "soluções" para salvar o planeta. As pessoas já têm as soluções, e a soberania do conhecimento.
Vandana reforça que não precisamos de mais discussões, nem mais negócio, nem de mais tomadas de decisão. Que estas negociações são um insulto.
Temos de celebrar a nossa liberdade, celebrar o solo: comer biológico, conhecer os agricultores e criar laços, começar mercados, declarar zonas livres de OGM, fornecer os hospitais com comida a sério, biológica. Porque raio uma pessoa doente tem de se envenenar ainda mais?
E eu acrescento: Temos de nos nutrir, a nossa energia está na comida a sério.
Finaliza: Superaremos, agindo como cidadãos globais e reclamando o direito à decisão.
É tempo das pessoas assumirem o poder. E o Orange Hall enche-se de euforia.

Tânia Simões


projecto270 @ Global Day of Action 12_12



Acordamos às sete da manhã, e reunimos o grupo para a grande manifestação.
De facto, hoje fomos convocados para duas demonstrações, a primeira organizada pelos Friends of the Earth, intitulada "Flood", em que todos os participantes vão vestidos de azul, representando a água que irá "inundar" o parlamento, que por sua vez é o ponto de partida para a grande manifestação do dia.
Antes de partirmos encontramos mais familia portuguesa, mais ouriços, e é muito bom estarmos rodeados de familia. Temos os nossos grupos de afinidade e pares, caso alguem se perca, caso haja perturbações fora do bloco. Tanto os camponeses da Via Campesina como os jovens sem terra de Reclaim the Fields, tem como mote a não violência, e como tal, é imperativo que não haja espaço para entradas de estranhos no coração do bloco durante a caminhada até à conferencia. O que na realidade acontece, ultrapassa qualquer tipo de plano ou estratégia que se possa desenhar.
Ao invés dos 30 mil participantes esperados, as ruas enchem-se muito mais, e alguns dizem que a mancha ultrapassa os 100 mil participantes. À boa maneira portuguesa, o projecto270 tem um dos maiores banners, medindo cerca de 3 x 8 metros, que serve de parede de protecção e fecho do nosso bloco. São muitas as pessoas que se juntam à festa, porque é disso que se trata, uma festa das pessoas para as pessoas, e o ambiente é muito descontraido. São horas a andar, durante os mais de 10 km que fazemos durante a tarde. Alguns disturbos subtis fazem com que a policia prenda 200 pessoas que apenas se manifestavam pacificamente. Os jornalistas viram o seu acesso restringido à area a partir das 18h. A policia dinamarquesa é acusada de violação dos direitos humanos por reter 100 pessoas na rua, algemadas e sentadas ao frio severo durante horas, sem acesso a água, cuidados medicos ou casas de banho. Este tipo de acção pelas autoridades está a causar um desconforto crescente em todos os participantes, e também nos dinamarqueses. Quando os direitos humanos basicos são retirados, bem como o direito à livre expressão, acompanhado pelo facto de que quem está aqui para se manifestar já sabe do grande negocio que se tenta fazer com o clima nesta conferencia e quer pará-lo, parece que há duas opções para a policia dinamarquesa: criminalizar e desumanizar os participantes.
Parece que, à semelhança de Seattle, e de uma maneira muito mais organizada e matura, o povo será mais forte. Não vemos ninguém a vacilar, com receio, ou a desistir.
De facto, não há tempo. Citando um dos cartazes distribuidos nesta manifestação:
Bla Bla Bla - Action! Temos a certeza de que Copenhaga será um ponto de viragem, pois todos os povos do mundo estão aqui represenados. O planeta não é uma, ou de uma, multinacional.
Cansados, voltamos para casa.

Tânia Simões








projecto270 @ Gymnasium 11_12









Conhecer melhor o grupo de jovens activistas e estabelecer laços de confiança foi como começámos o dia, com dinâmicas de grupo e jogos, apresentações dos vários projectos presentes, com especial destaque para o grupo Reclaim the Fields suéco, que durante um ano desenvolveram uma horta comunitária com o intuito de produzir quantidade suficiente de vegetais biológicos para alimentar cerca de 400 activistas por dia durante este encontro. A sopa suéca é muito apreciada, sobretudo porque é sempre muito saborosa, muito quente, paga por doação, e muito reconfortante com o frio que se faz sentir. E se ainda houver alguém com fome, faz-se já outra num instante. Muito amor.
Esta cozinha comunitária tem como base a zona de restauração do complexo, DGI-Byen, onde se passa o klimaforum, e é também o ponto de encontro dos participantes das conferencias.
O ambiente por aqui é extremamente diversificado, tanto pelas diferentes nações presentes, como pelas diferentes gerações, e o melhor é que há uma constante troca de experiencia, sem qualquer tipo de fronteiras ou preconceitos, horizontal. Toda a gente é importante para o processo, todos têm algo a acrescentar, potencializando assim esta viragem necessária de forma de estar em sociedade.
Assistimos a mais um forum sobre justiça climática, soberania alimentar e energética, com apresentações intensas de cerca de 15 entidades, organizado pelos Friends of the Earth.
Vários problemas são focados: a privatização da atmosfera, a responsabilidade do agronegócio e da exploração de petroleo nas alterações climáticas, soberania alimentar e energética, justiça climática.
À tarde deslocamo-nos novamente a Christiana, onde assistimos à apresentação de vários facilitadores do curso Ecovillage Design Education, incluíndo os nossos queridos amigos de Findhorn Prachar, Jane e May, como sempre empenhados em germinar sementes para o futuro, de uma forma holistica.
Começam as reuniões. Ao regressar planeamos a manifestação de amanhã, a primeira. A postura da coalição Climate Justice Action e dos vários movimentos que a integram, bem como Reclaim The Fields e Via Campesina, é a da não-violência, e do dialogo. Formamos grupos de afinidade para estabelecer laços mais estreitos, e reforçar a segurança. Os helicopteros policiais já começam a invadir os céus de Copenhaga, mapeando as manifestações espontaneas que começam a crescer um pouco por toda a cidade. A cada hora que passa, mais gente chega...

Tânia Simões 

13.12.09

projecto270 @ klimaforum09 + encontro com reclaim the fields



Durante o dia, continuámos com as conferencias no klimaforum, desta vez abordando os limites do crescimento e desenvolvimento num planeta de recursos limitados. Mais uma vez se reforça a necessidade de uma mudança de sistema, de um corte com a politica economica actual.
À tarde, acompanhamos uma discussão sobre a divida ecologica, e muitos testemunhos na primeira pessoa de povos que sentem na pele as alterações climáticas e o sugar dos recursos naturais por parte das multinacionais.
A familia dinamarquesa que nos albergou nos primeiros dias confessa-nos que não podem mais ouvir falar em clima. Nos últimos meses, tem havido tanta publicidade em todo o lado e a toda a hora que, acabou por obstruir qualquer tipo de interesse em informação alternativa ao encontro que se realiza no Bella Center. Os habitantes de Copenhaga entendem porque vieram pessoas para as manifestações, mas temem o dia 16. Os mais velhos não entendem de todo, pois têm como garantido o "bom resultado" das decisões do COP 15. Partilhamos com eles as informações acerca dos encontros alternativos, e a reacção é a surpresa: "Mas, este homem é muito conhecido aqui!"
Assim, abrimos mais uma janela, e, pelo menos esta familia vai fazer o esforço para entender o que está por trás de toda esta loucura de publicidade.
Hopenhagen está por toda a parte, uma campanha que rapidamente se transforma em Shopenhagen no backstage. Existe um mega aproveitamento publicitário por parte das grandes multinacionais, o famoso green wash. "Somos todos pró-ambiente, pró-planeta." Há muita, muita gente zangada e ofendida.
Depois de dois dias em familia, chegou a hora de nos despedirmos e de nos juntarmos ao grupo de jovens campesinos, reclaim the fields, para iniciarmos assim as acções planeadas para esta semana.
O ponto de encontro foi também o inicio destas, com uma vigilia em homenagem aos campesinos que perderam a vida defendendo um mundo rural vivo.
Pela noite dentro, cerca de 60 activistas de todo o mundo seguem para o ginásio de uma escola ao qual chamaremos casa nos próximos dias. Dormimos em 3 ginásios, um para as mulheres da via campesina, outro para os homens, e outro para os jovens de reclaim the fields.
O frio aumenta.

Tânia Simões