por Nuno Belchior
Como forma de combater o excesso de CO2 na atmosfera desenvolveu-se o conceito de mitigação climática.
Todos nós, quer acreditemos em alterações climáticas ou mesmo sendo cépticos a este facto, nos rendemos à plantação de uma árvore. Todos os contos infantis têm bosques e florestas, e quando crescemos são os lugares hidílicos, de fonte de beleza da vida.
No entanto, diferem bastante dos contos de fadas na realidade, em que milhões de hectares são ocupados por eucaliptos ou pinheiros bravos. Desertos verdes, mihares de hectares destas árvores retiram a água do solo, os nutrientes e, expulsam as comunidades indigenas.
A paisagem é também ocupada com enormes torres éolicas, centrais solares, centrais de carvão e nucleares, barragens que impedem os rios de percorrerem o seu caminho milenar. A troco de mais uns neons de publicidade, de incentivo ao consumo e logo, à frustração, destroí-se o que é mais necessário, pelo planeta inteiro.
Enquanto que o excesso de consumo de carne, açucar e óleo é a primeira causa de doenças mortais nos paises ditos ricos, a sua produção é causa de destruição ecológica nos paises pobres. Comunidades são expulsas ou assasinadas para dar lugar a mega produções de soja, cereais, óleo de palma, cana de açucar. Uma familia camponesa que trabalhava o seu sustento em 1 hectar de terra é agora obrigada a trabalhar nestas plantações ou, emigrar para a cidade.
O colonialismo é a marca mais negra da história humana. Este sistema permitiu retirar aos seus legítimos donos todos os recursos naturais, e as suas próprias vidas. Sistema capaz de fazer que comunidades residentes nos seus locais de origem se tornassem comunidades marginais, párias, num estorvo.
Este sistema tem como objectivo esturquir riqueza de forma a criar nos paises um foço maior entre quem-muito-tem e quem-muito-tem-de-fazer-para-ter-o-mínimo. O fosso entre ricos e pobres aprofundou-se tanto que o fundo deste se encontra a bilhões de dólares de profundidade.
Esta cimeira pretendia pintar de verde um sistema que é negro, que se baseia na ganância, no roubo, na violação. A sua base é a expropriação do bem comum, e o seu único objectivo o lucro.
Estas foram as razões que levaram mihares de representates de comunidades a Copenhaga, apesar de manobras de marketing quererem transformar esta cidade em HOPE, a verdade é que foi sempre COP.
Durante meses o governo dinamarquês submeteu os seus cidadãos a formatações do que se trataria na sua capital, assuntos de máxima importância para o mundo, e que todos os cidadãos deveriam de estar preparados, inclusivé, para o pior. Os bandos de marginais lá dos confins da Europa: os Gregos viriam à sua cidade para colocá-la a ferro e fogo, estes e os outros: Alemães e Italianos que submergiriam a sua capital num manto de destruição e rapinagem. O parlamento via-se na obrigação de aprovar leis draconianas, anti-democráticas, como forma de proteger a sua população. Contudo, seriam de caracter permanente.
O governo preparando-se para eleições demonstraria assim o seu poder autoritário e negocial. A vinda do imperador à cidade tomou mais importância que a própria cimeira. O frio desta cidade acabou por prejudicar o império, pois, apesar do calorzinho da limusine, o imperador vinha nú. Nú de respostas, ou soluções.
E essas pessoas vindas das Áfricas, das Indias, das Américas, esses enviados das comunidades que davam voz aos que sofrem, aos famintos. Aqueles, que nas suas regiões tentam viver com a opressão de um sistema, que impõe, destroí, mutila e tortura, tiveram o seu tempo para falar e, de serem calados.
Enquanto que na cimeira das Nações Unidas faziam parte do folclore, nas conferências e workshops, quer do Klimaforum quer no Climate Bottom Meeting, expunham os seus problemas e igualmente as soluções, sendo o interessante a forma que encontraram para conseguir, a muito custo, manter a sua dignidade.
O governo Dinamarquês, para os fazer sentir em casa, colocou toda a policia na rua, helicopteros no ar, detenções arbitrárias, rusgas, violência física, detenções completamente desumanas em que pessoas algemadas ficaram sentadas horas a fio, no frio, urinando-se pelas pernas abaixo. Apenas com a justificação da prevenção. Mas prevenção do quê? Nenhuma acção violenta séria foi instigada por algum dos grupos ligados à organização das demonstrações. Não-violência foi a proposta que foi aceite, por todas as pessoas. Os lideres desapareceram, é outra coisa boa de Copenhaga, deram lugar aos que falam, aos que são reconhecidos pelo seu trabalho, que são reconhecidos por grupos informais de pessoas que assumem a responsabilidade no protesto. Os gestos servem para demonstrar a pulsão do grupo, os seus desejos, os seus receios. Tempo para tudo quando o objectivo é determinado pelo consenso.
Em resposta à acção não-violenta vieram prisões em massa sem qualquer justificação legal, espancamento, gás pimenta, gás lacrimogénio. Aos grupos de discussão aberta chegou a infiltração de policias à civil, nas manifestações pacificas os agitadores policiais.
Quando a Autoridade de um país socialmente avançado confisca óleo de fritar pois poderia ser utilizado para fazer bombas, é de rir, é mesmo hilariante. Confiscar ferramentas de trabalho como forma de prevenção é ridiculo. Deter porta-vozes antes de demonstrações é ditadura.
Sem dúvida que o COP 15 foi uma vitória para o sistema capitalista, o greenwash continua, mas só vai nele quem quer. E quem não quer vai ter de querer porque a economia não pode deixar de crescer, a pobreza, a destruição, mas verde, e publicitada em horário nobre.
Alterações climáticas ou mudança de sistema? Ali naquelas ruas, com a neve a cair nos ombros, a resposta era simples: mudamos o sistema e deixamos no museu a familia deste, desenvolvemos conceitos que nos permitam viver em harmonia com a natureza. Tecnologia, conhecimento, recursos, temos de sobra, basta colocar o sistema numa caixa de compostagem, acabando-se com o parasita.
As soluções convergem todas para o mesmo ponto, a energia, mesmo em frente do nosso nariz, por debaixo do nosso queixo: o prato, a comida.
Esta será talvez a maior conclusão destes dias: a produção de comida pelos próprios, e comida proveniente da agricultura biologica local é o melhor contributo que individualmente as pessoas podem dar.
Os movimentos afirmam-se assim com propostas claras, criticas e fundamentadas, e acima de tudo, com um grande respeito por toda a vida no Planeta.