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18.12.09

projecto270 @ Hit the production! + Farmers' action 13_12




Continuam as manifestações em Copenhaga.
Tento mais uma vez aceder à internet, mas já não consigo. No klimaforum há problemas, a net wireless está sempre a cair, e começo a pensar que nada acontece por acaso.
Ao meu lado está George Monbiot, jornalista do Guardian, que tem internet mas trouxe a sua própria pen. Um jovem jornalista dirige-se a ele e cumprimenta-o: "You are my hero!".
"Mas, o que achas do que se está a passar no Bella Center?"
"Bem, algo de estranho se passa, ontem alguém conseguiu passar imagens dos manifestantes nos ecrãs internos e, foi bastante interessante observar as reacções. A partir desse momento, as negociações entraram em desalinho e, estou curioso para ver o desenvolvimento..."
"Então, achas que as manifestações podem ter influência nas negociações?"
"Concerteza. Vamos ver o que acontece. O que é certo é que há cada vez mais delegados incomodados com  as reuniões à porta fechada, e com a separação norte - sul, muito assumida."
Depois do climategate, depois do destapar de algumas das negociatas preparadas de antemão, depois do texto secreto dinamarquês ter sido revelado, depois das acusações dos indigenas, vem a certeza que os que se manifestam na rua, independentemente do frio, da neve, da chuva, são os detentores da razão. Já chega de negócio.
A Via Campesina organiza mais uma acção, à porta do edificio do Danish Meat Council, denunciando o modelo de produção de carne industrial e intensivo. Como em todas as acções, tem teatro, é animada e divertida, e a mensagem passa. Os palhaços continuam a ajudar a policia, enfatizando o ridiculo de toda a situação. De notar que Copenhaga está preparada. Preparadissima para a batalha, que ninguém sabe qual é. Em especial os sitios do costume (Macdonalds, KFC, Netto, etc) estão super-protegidos, com uma esquadra inteira só para eles.
Ainda não perceberam que o movimento nascido em Seattle está mais velho dez anos, logo, mais maduro, e que o acordo entre todas as organizações presentes, em absoluto, é a não-violencia.
É importante repeti-lo vezes sem conta, porque ao ver tanta policia na rua até parece que há vandalos à solta. Não é o caso. Aliás, brincando com os "nossos seguranças privados" vamos tentando passar-lhes mais informação, e muitos dizem mesmo que não dúvidam dos nossos argumentos. É importante repetir também que esta massa populacional que constantemente se manifesta nas ruas de Copenhaga está em constante acção de sensibilização e, como é óbvio, os policias são o alvo mais próximo.
"The criminals are inside!", "Join us" é o que mais se ouve.
No klimaforum, Vandana Shiva e restante comissão internacional para o futuro da comida e da agricultura deitam a casa abaixo com o seu trabalho. Depois do manifesto sobre o futuro das sementes em 2006, vem o manifesto sobre as alterações climáticas e o futuro da segurança alimentar.
O melhor deste painel é a partilha dos resultados alcançados, do sucesso das iniciativas, e sobretudo, a facilidade da utilização da palavra.
E quando Vandana fala, todos ouvem e reagem imediatamente.
Fala sobre culpa. A atmosfera e o clima são valores públicos que não podem ser submetidos a valores de mercado e ao deixar estas negociações nas mãos dos mesmos, estamos a oferecer os direitos de propriedade do próprio ar que respiramos. Somos todos cúmplices desta situação, pois autorizámos que as mesmas pessoas que esgotaram os recursos, apresentem agora as suas "soluções" para salvar o planeta. As pessoas já têm as soluções, e a soberania do conhecimento.
Vandana reforça que não precisamos de mais discussões, nem mais negócio, nem de mais tomadas de decisão. Que estas negociações são um insulto.
Temos de celebrar a nossa liberdade, celebrar o solo: comer biológico, conhecer os agricultores e criar laços, começar mercados, declarar zonas livres de OGM, fornecer os hospitais com comida a sério, biológica. Porque raio uma pessoa doente tem de se envenenar ainda mais?
E eu acrescento: Temos de nos nutrir, a nossa energia está na comida a sério.
Finaliza: Superaremos, agindo como cidadãos globais e reclamando o direito à decisão.
É tempo das pessoas assumirem o poder. E o Orange Hall enche-se de euforia.

Tânia Simões