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10.12.09

de lisboa a copenhaga

Santa Apolónia é uma estação de comboios carregada de significado para o país.
A escultura que se encontra à sua saída marca um tempo em que os portugueses eram obrigados a emigrar para poder encontrar uma vida digna.
Marca igualmente a viragem politica do nosso pais, num longínquo Abril de 1974, com a chegada dos diversos perseguidos políticos do governo fascista, que vingou em Portugal durante 40 décadas. Um país culturalmente atrasado, mergulhado numa economia de favorecimento das grandes familias, como factor de estabilidade política responsável por uma estagnação social e por uma mentalidade bafienta e preconceituosa.
O primeiro comboio que apanhámos, para participar nas demonstrações em Copenhaga com outros agricultores familiares do mundo inteiro por uma economia que respeite as pessoas e o planeta Terra, o SUD EXPRESS, transportou milhares de imigrantes que contribuiram com as suas poupanças para o desenvolvimento do país, responsáveis por entradas de dinheiro superiores às da União Europeia.
Muitos viajam agora de avião, autocarro ou carro. Contudo, continua a ser um transporte usado pela emigração para se deslocar para os sitios onde vivem e trabalham.
Um comboio sujo com condições, de 1962, como vem marcado na carruagem do bar. Os ordenados mensais dos gestores da companhia equivalem ao que um destes emigrantes irá ganhar nos próximos 2 ou 3 anos, e as remessas de dinheiro serviram para o estado esbanjar nesta companhia que não apresenta resultados visiveis. As carruagens encontram-se com o surro agarrado, entranhado, como se fizesse parte destas. As janelas, contudo, podem ser consideradas autênticas peças de arte, a sujidade agarrada mostra a realidade do nosso pais.
Portugal tornou-se num pais sujo e cinzento.
Chegamos à estação de boleia, e a conversa no caminho foi acerca desta sujidade. Interessante o facto de ser proferida por alguém que acreditava que bastava trabalhar afincadamente, que tudo iria correr bem. Mais uma, nos milhares de pessoas desconhecidas que se vêem prejudicadas pela corrupção no nosso país.
O descredito dos decisores politicos, judiciais, e os negocios da União Europeia com a China que apenas favoreceram os grandes empresários e é agora a causa de milhares de postos de trabalho perdidos. Falta de adaptação ao modelo neo-liberal baseado na ganância e no lucro fácil, numa competição desleal entre pequenas empresas de cariz familiar e grandes grupos económicos.

Nuno Belchior