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24.11.09

É p'ra amanhã




É p'ra amanhã
Nuno Belchior, projecto270

 

“Desculpa” surge como forma de eximir da culpa.
“Adiar” é transferir para outro dia.


Durante 17 anos a desculpa tem vindo a ser utilizada para justificar a perpetuação de um dos maiores actos criminosos que o homem conseguiu edificar: a destruição ecológica.
Em 1992 no Rio de Janeiro, a cimeira da Terra marcou uma nova maneira de ver o Mundo e, para muitos, seria o abrir de um novo capítulo acerca da história da vida humana no planeta. Contudo, em 2002, a cimeira da Terra em Joanesburgo demonstrou que seria impossível mudar a economia capitalista baseada na exploração global dos recursos naturais.

O século XX foi marcado por revoluções e, entre elas, provavelmente a mais importante foi a revolução verde, pelos efeitos nefastos já produzidos que irão perpetuar-se no tempo.
O agricultor transformou-se em produtor agrícola, e as pessoas transformaram-se em consumidores. Num curto espaço de tempo desapareceram as grandes florestas, a biodiversidade diminuiu de forma acelerada, 75% da diversidade agricola desapareceu, segundo a FAO, Nações Unidas (Food and Agriculture Organisation).
A privatização da vida e da liberdade, nunca mais se desassociou da tríade constituída por agricultura intensiva, petróleo e sector financeiro.
Homogeneizou-se assim a paisagem, a alimentação e o pensamento.
Destruiu-se o conceito de comunidade para dar lugar ao individualismo disfuncional.

Alteramos a História, desvalorizamos e inferiorizamos os ecossistemas naturais bem regulados, eficazes e produtores de riqueza.
Valorizamos o aditivo, como forma de escamotear a perca da Essência.

Os fluxos de migração a que assistimos hoje, têm a sua origem no século XVIII.
A escravatura dos povos africanos e sul-americanos, o êxodo rural europeu, marcaram o mundo de forma trágica.
Esta é a génese do que hoje aceitamos como neo-liberalismo.

A ciência apoiada por grupos económicos impôs-se, desvalorizando outras formas de conhecimento, utilizando modelos de estudo que buscassem o fim de apenas atingir o lucro fácil. O conhecimento passou a ser uma forma de manobrar pessoas, e de impor medidas que permitissem concentrar nas mãos de poucos, a vida de milhões.

COP-15 é a próxima conferência da ONU sobre o ambiente e alterações climáticas, de 7 a 18 de Dezembro, em Copenhaga, onde se irá discutir de que forma o mundo vai resolver a ameaça do aquecimento global à sobrevivência da civilização humana.

No próximo mês seremos testemunhas da incapacidade de se desenvolver um novo modelo que tenha em consideração a vida.
As alternativas tecno-financeiras a apresentar para combater as alterações climáticas apenas servem para a manutenção da irrealidade e do sofrimento.
Assumir-se-á definitivamente o modelo acéfalo.

Durante os últimos 17 anos as Nações Unidas, e as diferentes organizações que a compõem, estudaram, analisaram, provaram que esta forma de desenvolvimento é uma regressão.
Ficarmos indiferentes a este encontro é demonstrarmos a nós próprios que a nossa existência
é fruto do acaso.

Nuno Belchior, projecto270